Casa de Maquir

CASA DE MAQUIR

(Jônatas, filho de Saul, tinha um filho chamado Mefibosete, que ficou aleijado quando era criança. Mefibosete tinha 5 anos quando chegou de Jezreel a notícia de que Saul e Jônatas haviam sido mortos na batalha. Ao ouvir isso, a ama do menino o tomou nos braços e fugiu. Na pressa, porém, deixou-o cair, e ele ficou aleijado.) 2 Samuel 4:4

Certamente a história de Mefibosebe é bem conhecida, e provavelmente a maioria das pessoas já ouviram falar na saga deste menino-príncipe que foi aleijado de ambos os pés.

No entanto, gostaria de contar a história de um homem menos conhecido, com poucos relatos sobre ele na Bíblia.

Embora poucos, são riquíssimos os pontos que temos a aprender com nosso protagonista, que embora pouco citado, deixa uma história com grandes exemplos de amor ao próximo.

Para entendermos e aprendermos mais sobre ele, precisamos relembrar um pouco a história do já famoso Mefibosete.

Como o texto bíblico já prenuncia, Mefibosete era filho de Jônatas, que por sua vez era filho do Rei Saul.

Logo, sabemos que Mefi era um príncipe sujeito ao trono. Tinha sangue e linhagem real, e direito a viver no palácio e governar futuramente as terras de Israel.

No entanto, esses planos foram abortados, quando seu pai e seu avô foram mortos em batalha.

Tradicionalmente, quando um Rei é sucedido por outro Rei que não da sua família, esse novo Rei, busca exterminar a linhagem real anterior, para que ninguém no futuro possa lhe reivindicar o trono.

Desse modo, ao saber da morte do Rei, houve-se um grande desespero no palácio, e nessa correria, foi necessário a todos com sangue real, imprimir fuga, do qual na pressa, um acidente terrível aconteceu com o menino Mefi, deixando-o aleijado de ambos os pés.

Vamos imaginar e adentrar na realidade desse menino, imagine a dor, o desespero de uma criança de apenas 5 anos de idade, que tinha tudo o que uma criança nesta idade e nesta época podia ter.

Era filho de príncipe, neto de rei, certamente bajulado, paparicado, bem cuidado. Na sua disposição os melhores brinquedos, as melhores refeições, os melhores doces, educadores e conselheiros a sua volta para lhe orientar e cuidar de tudo o que precisasse.

Mas o dia fatídico chegou, e como vimos, ele caiu e quebrou os pés.

Quebrar os pés é algo muito desagradável, só quem já quebrou algum osso sabe da dor que estamos falando. Mas, hoje em dia temos anestesia, temos cirurgia, temos medicamentos que nos ajudam a superar a dor, e a restaurar nossos ossos para que em curto tempo nossa vida retorne ao normal.

Mas para Mefibosete a realidade era outra, não havia medicamentos e anestesias, e nem tempo para tratar e amarrar os pezinhos pra cima e ficar de repouso num leito aconchegante.

Mefi estava em fuga, diante da sua dor, eu imagino o desespero da ama, lançando ele numa carroça, e cobrindo-o para que não fosse reconhecido, enquanto os cavalos imprimiam uma grande corrida.

Talvez a anestesia que teve foi uma mão apertando-lhe e abafando a boca, para que não gritasse e assim fosse reconhecido.

Quem sabe nesta situação, ele tenha encontrado um pequeno espaço entre os tecidos, e visto o castelo onde morou, o único lar que conhecia diminuindo no horizonte, enquanto se afastava rumo ao incerto.

Que situação terrível!!

A história continua, mas por alguns capítulos, e por um longo tempo, não se fala mais nenhuma linha sobre esse menino.

A vida vai passando, no capítulo 5 Davi é constituído rei do todo Israel e nascem seus filhos em Jerusalém.

No capítulo 6 Davi traz a arca para Jerusalém, no 7, Davi deseja edificar um templo ao Senhor, e o capítulo 8 narra as vitórias de Davi sobre várias nações.

A vida segue seus cursos, as pessoas vão progredindo, tendo vitórias conquistando, o reino segue feliz, mas não se fala no jovem Mefibosete, parece que sua vida parou, que ele desapareceu, que sua história não tem importância ou relevância suficiente que valesse a pena ser escrita.

Talvez você também tenha tido esta sensação com sua vida. A sua volta parece que todos vencem, avançam, conquistam, mas sua história é discreta, sem nada que chame a atenção de ninguém.

Quem sabe alguém também tenha deixado você cair, e com isso você perdeu a habilidade de caminhar, na sua vida espiritual, na sua vida profissional e até mesmo sentimental.

Alguém que talvez até te amasse, lhe deixou cair, lhe causou alguma dor que mudou seu curso, mudou suas perspectivas, e lhe aleijou de seus objetivos.

Mas no capítulo 9 algo acontece. O título do capítulo é “A Bondade de Davi para com o filho de Jônatas”

E diz assim dos versículos 1 ao 5:

“Certo dia, Davi perguntou: “Resta alguém da família de Saul, a quem eu possa mostrar bondade por causa de Jônatas?”.

Havia um servo da família de Saul, cujo nome era Ziba, e o trouxeram a Davi. “Você é Ziba?”, perguntou o rei. “Sim, seu servo, meu senhor!”, respondeu Ziba.

Então o rei lhe perguntou: “Resta alguém da família de Saul? Se resta, gostaria de mostrar a bondade de Deus para com ele”. “Um dos filhos de Jônatas ainda está vivo”, respondeu Ziba. “Ele é aleijado dos dois pés.”

“Onde ele está?”, perguntou o rei. Ziba respondeu: “Em Lo-Debar, na casa de Maquir, filho de Amiel”.

Então Davi mandou buscá-lo na casa de Maquir.” 2 Samuel 9:1-5

Davi se lembra da sua amizade e lealdade junto a Jônatas, aquele mesmo, pai de Mefibosete, e procura quem possa lhe indicar se teria alguém vivo ainda, de sua linhagem.

Esses versículos são muito ricos para nosso estudo.

Primeiro:

O Rei se lembrou daqueles que nem todos se lembram, lembrou daqueles que não estão em destaque, lembrou-se daquele que muitos achavam que estava morto. O Rei se lembrou.

Deus também, não se esquece de seus filhos, não se esquece daqueles que ficaram feridos pelo caminho e que em dado momento sentiram-se tão insignificantes que pareciam estar mortos.

Você não está morto, Deus sabe do seu paradeiro, Ele sabe o que você está sentindo, sabe da sua angústia da sua dor, e das suas limitações.

Segundo:

Aparece na história o tal “Ziba”. A Bíblia diz que ele servia no palácio quando o rei era Saul, e pelas palavras dele mesmo, podemos entender que ele não só sabia da existência de Mefibosete, como também sabia do seu paradeiro, sabia da sua deficiência.

Mas o que ele fez por Mefibosete sabendo disso tudo?

Nada. Quando perguntado apresentou de prontidão o defeito de Mefi, dizendo que o mesmo era aleijado.

Muitas vezes pessoas que sabem da nossa dor, sabem das nossas limitações, nada fazem. Passamos por lutas, quedas e tribulações diante de uma plateia de espectadores que só querem ver onde isso vai dar, mas não se incomodam em ajudar, em fazer nada.

Não importa se estão apontando seus erros e seus defeitos, o que importa amado, é que o Rei mandou lhe chamar, e ele não perguntou nada sobre defeitos, dificuldades e dores, ele apenas mandou chamar! o Rei está nos chamando! o Rei quer nos ver! independente das nossas limitações, independente se começamos bem na caminhada e por algum motivo nos ferimos e não conseguimos caminhar mais, Ele está nos chamando, e não importa as vozes a volta o que importa é que o REI ESTÁ NOS CHAMANDO.

Terceiro:

Enfim surge o nome de um personagem pouco conhecido, mas que neste momento será o protagonista desta história: MAQUIR.

Ziba diz que Mefibosete foi levado para um lugar chamado Lo Debar, na casa de Maquir.

Lo Debar em algumas traduções significa “terra sem pasto”, “lugar sem verde”, “lugar do esquecimento”, “terra sem alimento”, ou ainda “lugar nulo”.

Ao pensar nestes nomes, logo entendemos que o local era complicado de se viver, e bom para se esconder.

Local propício para se esquecer a identidade e o passado, e para passar pela história discretamente.

Mas ele acrescenta que em Lo Debar ele estava na casa de Maquir.

Embora isso parece não mudar muito a ideia que temos desse local, precisamos entender que de modo algum a casa de Maquir era local deserto.

Mesmo em meio ao local deserto, podemos entender que a Casa de Maquir, era um oásis, um porto seguro, um lugar para ser acolhido, um lugar onde encontrar socorro.

Foi nesta casa que Mefibosete cresceu e manteve viva a chama da sua identidade.

Embora manco dos pés, foi na casa de Maquir, sob os cuidados desse homem, que ele teve suas feridas curadas e a convicção de que mesmo ferido ele tinha sangue real.

Maquir o protegeu e certamente o carregou em seus braços, quando ele não aguentava mais se arrastar naquela terra árida e quente.

Foi Maquir quem lhe alimentou e lhe deu uma cama aconchegante para dormir, e ele não fez isso tão somente a Mefibosete, olha o que diz o Capítulo 17 no versículo 27 do mesmo livro de 2 Samuel:

“Quando Davi chegou a Maanaim, foi recebido por Sobi, filho de Naás, de Rabá dos amonitas, e por Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar, e por Barzilai, de Rogelim, em Gileade.

Trouxeram camas, vasilhas, tigelas, trigo e cevada, farinha e grãos tostados, feijão e lentilha,

mel, coalhada, ovelhas e queijo para Davi e os que o acompanhavam, pois disseram: “Vocês devem estar muito famintos, cansados e sedentos depois da longa caminhada pelo deserto”.” 2 Samuel 17:27-29

Sim, você não leu errado, Maquir serviu e cuidou também do Rei Davi quando esse fugiu da perseguição de seu filho Absalão. E quanto dali saiu, seu exército foi vitorioso e seu inimigo derrotado.

A Casa de Maquir é lugar de refúgio, é lugar que mesmo estando em meio ao deserto, sempre tem alimento, sempre tem compaixão, sempre tem água e um leito macio para descansar.

Na casa de Maquir nossa identidade é restaurada, e ganhamos força para sairmos vitoriosos de nossa peleja.

Mefibosete se tornou homem na casa de Maquir, e um dia algo diferente aconteceu.

Um som alto de cavaleiros e carruagem rasgaram o silêncio daquele lugar e imagino o medo de Mefibosete ao avistar e ver que se aproximava uma comitiva real aquele lugar.

Por certo ele esperava que a morte estava chegando, que seu destino seria então selado, porque o rei teria o encontrado e queria terminar de destruí-lo.

Mas quem esta na Casa de Maquir pode ter chegado a ela desacreditado, desesperançoso, mas quando sai de lá, sai para assumir sua vitória.

Mefibosete saiu da casa de Maquir porque o Rei se lembrou dele não para mata-lo, mas para honra-lo e restituir tudo o que lhe pertencia.

A partir daquele dia, Mefibosete passou a comer a mesa do Rei, e a restituição chegou a sua vida.

Até o dia em que voltou para o lugar de sua origem, o Palácio Real, Mefibosete encontrou refúgio na casa de Maquir.

O Rei Davi quando foi cuidado por Maquir, teve suas forças e estratégias de guerras renovadas, e saiu de lá, para voltar ao seu trono, vitorioso em Jerusalém.

Eu não sei quais as dificuldades que você tem enfrentado, ou se você percebe que a sua volta há um grande deserto, mas o Senhor quer te levantar como um Maquir em meio a uma terra sem esperança.

Há muitos Mefibosetes que foram derrubados, pelas drogas, pelo abandono, pelas tragédias, pelos divórcios, pelas mentiras e tantas outras mazelas.

A Casa de Maquir que Deus procura é o nosso coração! esta casa se aberta, pode ser uma benção para os Mefibosetes que nos cercam.

Ser um Maquir não é ser uma pessoa perfeita, sem problemas que busca ajudar a resolver os problemas dos outros. 

Ser um Maquir é mesmo em meio ao deserto, em meio às próprias lutas, encontrar forças para consolar feridos e ajudar pessoas.

Deus poderia mandar anjos para fazer isso, mas prefere deixar sob nossa consciência essa linda tarefa de abençoar os mais necessitados.

Olha o que diz o Apóstolo Paulo em 2 Corintios capítulo 1, nos versículos 3 e 4:

“Louvado seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de todo encorajamento.

Ele nos encoraja em todas as nossas aflições, para que, com o encorajamento que recebemos de Deus, possamos encorajar outros quando eles passarem por aflições.

Pois, quanto mais sofrimento por Cristo suportarmos, mais encorajamento será derramado sobre nós por meio de Cristo.” 2 Coríntios 1:3-5.

Mefibosete foi príncipe até os 5 anos, sua vida mudou quando morreu sua família e ele acidentado ficou aleijado dos pés, apesar disso ele sobreviveu e isso só foi possível porque quando ele estava em sua maior dificuldade encontrou a Casa de Maquir.

A Casa de Maquir é um lugar de refúgio, onde de lá os feridos saem para um lugar ainda melhor, que possamos encontrar esse oásis, mas principalmente ser esse oásis por onde andarmos, oferecendo conforto, remédio, amor, alimento aos que sofrem a nossa volta.

Pr. Ricardo Laquila 03/02/2020